domingo, 19 de outubro de 2008

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UFBA – Universidade Federal da Bahia
FACED – Faculdade de Educação
CURSO – Licenciatura em pedagogia
CICLO UM – 2008. 2
PROFESSORA – Inês Carvalho
CURSISTA – Alaides Nascimento Nunes Pereira

Linha do tempo

Diante de tudo que vivi e de tudo que passei ficaram algumas lembranças guardadas em minhas memórias, tive uma infância humilde e muito sofrida. A cada novo passo da minha vida, estou sempre relembrando de tudo que já passei e o que já conquistei.
Minha história começa num contexto de separação entre meus pais. Sou a quinta filha dessa união que durou apenas dez anos.
Ao completar meu primeiro ano de vida em 1973, minha mãe começou a enfrentar muitas dificuldades; falta de alimentos e falta de apoio do meu pai, e com isso ela percebeu que não dava para continuar em Olho d`água município de Ibipeba estado da Bahia, lugar que nasci e decidiu mudar para Itapicuru município de Irecê na Bahia.
Lembro-me que ela juntou os filhos e as roupas, pegou o jegue e colocou duas bruacas. Eu em uma e meu irmão na outra. Esse animal ajudava nos trabalhos da roça, era com ele que passava capinadeira na roça e carregava algumas coisas para vender na feira. Por isso o jegue não podia ficar, a gente precisava dele, ele nos ajudou até na viagem. Enquanto mãe vinha a pé com os quatro maiores, ele carregava eu e meu irmão mais novo, eu em uma bruaca e ele na outra. Essa viagem durou dois dias. Ao chegarmos no lugar de destino ficamos na casa de tia Luísa irmã do meu avô paterno durante quinze dias. Ela tinha dez filhos mas a maioria já tinha casado, só tinha quatro dentro de casa. Mesmo assim ela nos apoiou.
Depois destes quinze dias na casa dela, passamos a morar em um depósito onde ficamos dois anos . Em 1977 houve uma seca muito grande e o governo enviou o DERBA = Departamento de Estradas e Rodagens da Bahia, e minha mãe começou a trabalhar juntamente com os dois filhos mais velhos. Com essa ajuda ela conseguiu comprar uma casinha para a gente morar.
Ainda me lembro que iamos para a roça catar mamona e ás vezes chovia , na volta a gente entrava na enxurrada e vinha correndo e escorregando na lama. Caindo e levantando, mamãe só observando, para mim era muito divertido.
Aos oito anos em 1980, começei estudar na escola Municipal Rural de Itapicuru, que na época tinha o nome de Polonordeste porque era uma extensão do Estado e é nessa mesma escola que estou trabalhando atualmente. Lembro-me das dificuldades que enfrentei para aprender, mãe não sabia ler e ninguém me ajudava em casa.Saia a procura de ajuda na rua, pedia alguém para ler e ia gravando as palavras dando nome a todos os dedos, na hora da leitura lembrava de todos.
Tinha uma vontade de aprender ler pegava a cartilha e ficava folheando e falava para meus colegas quando nós chegarmos ao final deste livro eu já sei ler. Dito e certo antes do final eu já conseguia ler tudo e ainda ensinei minha mãe a ler também.
Em 1987vim morar em Irecê Bahia trabalhando como doméstica e estudando na escola Polivalente de Irecê a sexta série, meus colegas só me chamavam de computador porque eu tinha facilidade de memorizar as coisas. Durante o dia não tinha tempo para estudar e acordava três horas da manhã para ler os questionários e memorizar para responder as provas. Passei a estudar a oitava série no ano de 1989,nesse ano eu já estava triste, pensando que não iria conseguir realizar o meu sonho, que era ser professora; pois naquela época o curso de magistério era muito difícil, só tinha em escola particular e eu não tinha condição de pagar.
Para a minha surpresa no ano seguinte 1990, começou a funcionar o segundo grau no Polivalente justamente o curso que eu desejava fazer magistério. Fui contemplada sendo um dos primeiros formandos dessa escola.
No ano de 1993 concluir meus estudos, e mesmo sendo um dia de muita chuva não impediu que minha família viesse assistir minha formatura aquele foi o dia mais feliz da minha vida 23 de dezembro de1993.
No ano seguinte 1994 já comecei a trabalhar como professora na escola Tenente Wilson de Irecê ,com uma turma de alfabetização com 48 alunos. Nessa época tinha muitos alunos defasados, e a gente não tinha subsídios para trabalhar com esses alunos, não tinha materiais e eram os pais que compravam as folhas de oficio. Os professores sofriam com salários atrasados ficando Meses sem receber.
Neste mesmo ano 1994, o Brasil e o mundo perdeu um grande artista. Estava na igreja quando recebemos uma notícia desagradável: Airton Sena morreu! Fui para casa sem entender como aquilo poderia ter acontecido e torcendo para que não fosse verdade. Liguei a televisão, foi a primeira notícia que ouvi. Naquele momento todos estavam sofrendo com aquele acontecimento, era o meu primeiro ano de ensino como regente.
Outro grande choque no ano de 1996, foi a morte dos mamonas, estava na casa da minha amiga Vagnólia. De repente sai na TV a notícia que o avião que transportava o grupo “Mamonas Assassinas” caiu e eles morreram. Não foi fácil para os Irecêenses, pois era nosso conterrâneo e ficamos, realmente, comovidos com a tragédia. Nesta época estava preparando o meu chá de cozinha, pois o casamento estava previsto para o ano seguinte.
Em 1997, o prefeito Adalberto Lélis assumiu a prefeitura e houve muitas mudanças na Educação, inclusive na minha vida como professora, eu que morava aqui em Irecê e ensinava na escola Tenente Wilson fui transferida para ensinar em Itapicuru povoado que fica a 7 km da cidade de Irecê, justamente no ano do meu casamento, no dia 20 de fevereiro comecei ensinar lá no povoado e no dia 20 de junho aconteceu o meu casamento. Em 1998, um ano depois nasceu a minha primeira filha, comecei sofrer as conseqüências de ter que me deslocar 5:30 da manhã à procura de um transporte para ir para o trabalho,com um bebê de apenas 4 meses de idade , enfrentando sol , chuva, frio e um trajeto de aproximadamente 800 metros a pé até chegar no ponto que a gente esperava táxi.
No ano de 2000, o projeto Nova Canaã começou a funcionar, Esse foi um projeto do bispo Marcelo Crivela para ajudar as famílias carentes de Irecê e região, com cerca de 200 alunos entre Irecê e povoados. A partir dessa data melhorou a minha situação quanto ao transporte, porque o ônibus que ia pegar os alunos passava 6 horas da manhã e eu pegava carona até em Itapicuru. Em 2001, nasceu minha segunda filha passei a levar as duas, mas agora com menos sofrimento pois já tinha o transporte certo, e até hoje trabalho em Itapicuru e vou no ônibus da Canaã.
Em 2008, iniciou uma segunda turma da “ UFBA” Universidade Federal da Bahia em Irecê e eu realizando mais um sonho que esperei por muitos anos , agora sou cursista da mesma e estou me sentindo realizada apesar de não estar adaptada a sua rotina.

2 comentários:

Mari disse...

Oi colega!
Adorei seu diário, pois ele retrata muito bem a história de muitos brasileiros que lutam por uma vida dígna.
Quantas Alaide,com tantos sofrimentos e determinações não existem pelo mundo a fora e elas que fazem a diferença pela sua perseverança e sua vontade de transformar seus sonhos em realidade.
Até aqui, você tem conseguido alcançar seus objetivos e com certeza Deus estará te ajudando a cada nova etapa em sua vida.
Siga sempre assim, confiante.
Abraços, Mari

cristina disse...

A paz minha amada.
Gostei muito do seu diário,observei que a vida tem nos proporcionado situações bem parecidas, na questão social e familiar, mas Alaides só a edcação tem a força de mudar a humanidade.
E ser professor hoje é dar sentido a vida dos alunos, a sua história de vida pode servir como um ponto de referência na transformação do sujeito instrumentalizando, os alunos que participem de processos coletivos, convivam e discutam com pessoas, defendam seus argumentos,inter-relacionem-se e integrem-se aos grupos coletivos para reconstrução ou construção de novos conhecimentos(BEHRENS, 1996p.41).


bjs.

Ana Cristina.